Quando se é acadêmico em enfermagem e se faz estágio em uma Unidade de Terapia Intensiva, uma das situações onde mais esperamos é quando um paciente tem uma parada cardiorrespiratória. Esperamos ansiosos por esse momento justamente para colocar na prática o que aprendemos na teoria e se for possível, contribuir para salvar a vida de alguém.
Parada Cardiorrespiratória, ou PCR, ou Parada Cardíaca é quando o coração começa a falhar e seus batimentos diminuem a ponto de cessar subitamente a circulação sanguínea para so resto do corpo. Inúmeras são suas causas, desde acidentes automobilísticos ou até por uma simples asfixia. Em teoria, existe uma pequena diferença entre parada cardíaca e parada respiratória. Na parada respiratória, os pumões não conseguem manter uma quantidade adequada de oxigênio e por isso o coração faz o possível para "tentar" salva-lo. Bate o mais forte e o mais rápido mas uma hora não aguenta, cansa e pára de trabalhar...
Essa semana, em estágio no HPS de Porto Alegre, um rapaz, mais novo que eu por sinal, estava internado na UTI de Politraumatizados. Se não me engano foi vítima de um acidente de moto ou algo do gênero. Em resumo, ele teve uma lesão nas vértebras T7 e T8, situadas na região torácica. Com essa lesão ele ficou tétraplégico...
E aos poucos seus orgãos vitais foram falhando. Talvez até ele pensou "Pra quê viver desse jeito? Passar o resto da vida em uma cama, não, não quero isso...tô fora..." Se tivesse em seu lugar em pensaria mais ou menos isso...Em consequência disso ele teve uma parada respiratória...
Acredite, existe uma imensa diferença entre a teoria e a prática. Os médicos intensivistas, enfermeira e alguns técnicos em enfermagem logo já meteram a mão na massa. Realizaram manobras de ressucitação. A minha turma estava pasma, afinal muitas nunca tiveram contato com esse tipo de situação. De repente, achei que eu que ia ter uma parada, o coração passava de uns 160 batimentos por minuto. Tem que pensar rápido em pouco tempo, e confesso que sou meio lerdo as vezes....
O médico já estava cansando de tanto fazer força nas massagens cardíacas. E eu paradão, só olhando... Então pensei, caramba, tenho que fazer algo, o cara tá ali cansando e eu aqui parado como uma besta, assim não dá, tenho que fazer algo...Ajudei então o médico a massagear e também nas ventilações feitas por máscara de ambu. É uma situação extrema, é muita adrenalina. Pode causar vício trabalhar em UTI e emergência...
No final nossos esforços foram em vão, o rapaz acabou falecendo. É um sentimento estranho ver alguem morrer em seus braços. Fizemos o que estava ao nosso alcance, mas nem sempre fazer o possível é mudar a situação. Não adianta, as pessoas morrem, quer queiramos ou não. Não é agora que isso vai mudar. Talvez não mude nunca. Por isso que existem coisas que a gente nunca esquece...
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
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